E cá estou, Japão. Também lhe agradeço.
Agradeço por não ser tudo o que imaginei. Agradeço por
mostrar-se outro. Por surpreender-me. Por quase me enlouquecer com seus faróis
sonoros, com suas meninas de risadinhas tontas e vezinhos nas fotos, com sua
juventude alienada e boba, com sua televisão completamente retardada, com seu
demasiado estímulo e demasiada repressão, com a ausência de poesia e excesso de
futilidades... que às vezes quase me fazem esquecer da poesia que carrego
comigo.
Quase.
Mas faz-me lembrar de onde vim. Fazes-me querer cantar pro
mundo o que e quem eu conheci, o que e com quem eu aprendi. Fazes-me querer.
E o mais legal ainda, acho... fazes-me inventar um você que
é meu, que sou eu.
Fazes-me emocionar-me absurdos com o carinho que senti das pessoas
que acabei de conhecer. Fazes-me saber procurar nas maiores sutilezas a sua
mais profunda beleza... no escuro de tuas florestas, na fumaça de teus
incensos, nos gongos de teus templos, nos teus silêncios. Que muitas e muitas
vezes teus próprios filhos não querem sentir. Que muitas vezes eles não te conhecem
como eu conheço. Porque te invento.
E porque te invento, porque acabo descobrindo um Japão que
sei e saberei melhor amar, porque encontro um Japão que me vale a pena escrever
e por saber ser esse Japão que me fez sair de casa, largar meu pai, avó, amigos
e até minha namorada... lhe agradeço.
Nunca há de ser em vão a criação que queremos na vida.