sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Ame ni mo makezu - Tradução de poema de Kenji Miyazawa

Descobri há uns dois anos atrás um poeta chamado Kenji Miyazawa,  宮沢 賢治.
Na época, estava buscando poetas japoneses contemporâneos, e acabei encontrando um poema dele na internet, intitulado Ame ni mo makezu, com tradução para o inglês. Achei muito lindo, e o guardei bem guardado.

Esses dias o reencontrei em meu computador, e me emocionei novamente. Me propus a lê-lo no original, sem depender da tradução em inglês, e me surpreendi com o fato de ter conseguido entendê-lo sem grandes problemas (dá-lhe dicionário!)

Pesquisei um pouco mais sobre o poeta, e descobri que ele teve uma vida interessante. Nasceu em 1886, filho de um abastado penhorista, numa cidade bem pequena e rural do Japão (Hanamaki, prefeitura de Iwate).
Desde jovem, diz-se que Kenji se incomodava muito com o fato de a riqueza de sua família provir da extorsão das famílias agricultoras de sua região.
Estudou agricultura e geologia, e foi um fervoroso praticante de Budismo. Mudou-se para Tokyo, após desavenças com sua família.
Foi professor de ciência da agricultura, e diz-se que sempre levava seus alunos para passeios nos campos e montanhas, pois acreditava que a melhor forma de aprendizado era a experimentação direta das coisas.
Escreveu contos de fadas, histórias para crianças e poemas, tendo publicado por conta própria o seu primeiro livro,  Chūmon no Ōi Ryōriten, 注文の多い料理店 (algo como "O Restaurante de Vários Pedidos").
De 1926 até o ano de sua morte, em 1933, dedicou-se a melhorar a qualidade de vida das pessoas de sua terra natal, em Iwate. Implantou novas técnicas de agricultura, e iniciou uma espécie de Associação de Agricultores, onde dava aulas de agronomia, mas onde também haviam diversas atividades culturais, como música e teatro.

O poema que descobri (e até agora foi a única coisa dele que achei na internet), é um poema bem famoso aqui no Japão. Tendo conhecido um pouco mais sobre a vida de Kenji, o poema fica ainda mais bonito.
Me aventurei nessa tradução pro português, tanto pelo treino, como para tentar ajudar a fazê-lo chegar mais longe, para pessoas que dificilmente teriam acesso a esse universo, mas que com certeza vão gostar.

Aí vai!

"Ame ni mo makezu" (Kenji Miyazawa, versão original)


雨ニモマケズ
風ニモマケズ
雪ニモ夏ノ暑サニモマケヌ
丈夫ナカラダヲモチ
慾ハナク
決シテ瞋ラズ
イツモシヅカニワラッテイル
一日ニ玄米四合ト
味噌ト少シノ野菜ヲタベ
アラユルコトヲ
ジブンヲカンジョウニ入レズニ
ヨクミキキシワカリ
ソシテワスレズ
野原ノ松ノ林ノ蔭ノ
小サナ萱ブキノ小屋ニイテ
東ニ病気ノ子供アレバ
行ツテ看病シテヤリ
西ニツカレタ母アレバ
行ツテソノ稲ノ束ヲ負ヒ
南ニ死ニソウナ人アレバ
行ツテコワガラナクテモイイトイイ
北ニケンカヤソショウガアレバ
ツマラナイカラヤメロトイイ
ヒデリノトキハナミダヲナガシ
サムサノナツハオロオロアルキ
ミンナニデクノボウトヨバレ
ホメラレモセズ
クニモサレズ
ソウイウモノニ
ワタシハナリタイ

*


Não perder para a chuva  - (Kenji Miyazawa, trad. Jony Pupo)

não perder para a chuva
não perder para o vento
não perder para a neve
nem para o calor do verão
manter um corpo forte
sem apegos nem ganâncias
nunca se irritar
estar sempre rindo silenciosamente
em um dia, comer arroz integral
com missô
e um pouco de legumes
em todas as coisas
colocar-se por último
ouvir tudo e ver tudo
entender
e não esquecer
viver num pequeno casebre
com telhado de palha
à sombra dos pinheiros
da floresta
se ao leste houver
uma criança doente
ir até ela e trata-la
se à oeste houver
uma mãe cansada
ir até ela e ajuda-la
se ao sul houver
alguém à beira da morte
ir e dizer que não é preciso medo
se ao norte houver
brigas e desavenças
dizer que parem, tamanha
tolice
na seca, derramar lágrimas
no frio do verão, vagar pensativo     
chamado por todos
cabeça-de-vento
não sendo louvado
nem corrompido
tal pessoa
eu quero me tornar

*

Ao que tudo indica, essa é uma imagem do manuscrito original, no caderno do Kenji


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

A montanha mais alta de Tenri

Subi hoje pela segunda vez a montanha mais alta de Tenri.
Passando por uma cachoeira incrível e sagrada, e por um templo escondido no meio da floresta, em que vive um velho monge, arrodeado por estátuas de divindades budistas.







Subi desta vez sozinho, já fazia um bom tempo que eu queria fazer isso.
Qual não foi a minha surpresa ao chegar no topo e ver que eu não estava tão sozinho assim...
É como me disse uma vez a minha vovó, "quem tem música no coração, nunca padecerá de solidão".

Não estive, nem estou sozinho - levo muitos comigo.



Axé!