travessados estamos nessa travessia, não? demais. por
demais, mas – que bom!
não digo que não dói. o sertão também dói, o senhor tolere,
respire, guente.
dói estar sem poder abraçar o primeiro que passar pela minha
frente e ser lindamente bem recebido.
dói não ter um chãozim de terra seca pra sentar e prosear
com alguém – descanso de verdade é este, aprendemos – prosear sentadinho em
qualquer canto, uma sombrinha e mais nada além.
dói lembrar de sorrisos, olhares fundos, em que não houve gesto
esticado ou palavra aberta suficiente pra dizer do quão belo achei.
dói estar longe de buriti.
dói estar longe de vereda.
longe, onde tudo parece ser tão fácil, mas não é. acho até muito difícil.
mas, travessados, continuamos travessando um ser-tão e – que
bom! caminho nunca há de ser o mesmo, quando se muda o caminhar.
continuamos travessando um ser-tão, nossos ser-tões, tonhos,
entortados de vento, embebidos de terra, e a saudade dá é sede. lendo e relendo
no aquém do pensamento: o peso é certo, veja – o excesso é de saudade.
travessemos, travessemos esse nonada que agora nos habita,
que agora despertou.
em palavra ou em silêncio, em canção ou em sussurro, em
corpo ou em etéreo, em lua cheia ou meio dia – fogueira, folia, meditação, roda, fila, mutirão, trabalho, descanso, contemplação.
juntos, travessados estamos – travessemos.
(para o Caminho do Sertão - 2015 e sempre)
(para o Caminho do Sertão - 2015 e sempre)
lindeza de relato, Jão :)
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